
A dose brutal de anti-histamínicos tornava-lhe os olhos pesados. Ainda assim esforçava-se por sorrir, exibindo sem vergonha e sem alarde o verde intenso dos olhos, como se estes, não carecendo de palavras ou pensamentos, agradecessem incessantemente os serviços que lhe prestavam. Como se estes não fossem só a obrigação que lhe deviam. Na mesa, uma pequena moldura castanho-pinho ostentava, sem impor, a fotografia de um militar empossando um qualquer metralhadora – era o namorado! Por baixo da camisa do pijama branco, saía tenuemente o catéter que estava ligado à máquina infusora do esquema farmacológico “BFM”, que ia já na sua terceira sessão. A Dra. Luísa apresentou-me: «este é o Dr. Bruno e está aqui pela primeira vez». Ela voltou a sorrir como quem proclama, segura de si mesma, «bem-vindo à minha 2ª casa»! Eu retribuí, envergonhado! Sandra não falou mais, tinha passado a noite isenta de dores e preparava-se para ouvir a frase milagrosa: «vamos dar-te alta»…
Em Julho, com uns muito recentes 23 anos, Sandra incomodou-se com uma dor cervical que lhe irradiava para o membro superior esquerdo! Uma boa dose de AINE’s foi o suficiente para que continuasse a trabalhar no cabeleireiro, sem se preocupar mais. Um mês depois enquanto tomava banho sentiu vários nódulos na mama esquerda. Assustada pelas infindáveis notícias e boatos de mulheres com cancro da mama, foi ao médico de família! Este, cauteloso, pediu uma mamografia! Mas esta não descansou ninguém. Disse-lhe: «vou enviar-te para o IPO, temos de investigar…». O reboliço a que votou o seu pensamento diário não mais voltou atrás.
No IPO explicaram-lhe que lhe iam retirar um pedacinho do nódulo maior para analisar. Paciente, Sandra esperou! Afinal, os seus 23 anos deveriam de lhe valer de algo… Ainda não tinha casado, ainda não tivera filhos… aquilo era coisa para mulheres mais velhas! No dia em que saiu de Oliveira de Azeméis para receber o resultado, Sandra ainda não percebia o porquê, certamente alguém se tinha enganado, não havia nenhuma história de cancro da mama na família! Quando encarou o médico, sentiu imediatamente que algo de mau se passava. «Sandra, tens uma leucemia…»
Três ciclos de quimioterapia depois, a Leucemia Linfoblástica Aguda L2 ainda lá estava. Resistente! Sandra aguardava o transplante de medula óssea – havia três dadores compatíveis em Portugal.
O exame físico terminara e Sandra voltou a sorrir! Mas este sorriso era diferente dos outros! Escondia qualquer coisa de inquietação! Qualquer coisa de prenúncio incontornável, de vontade impossível!
E o sorriso continuou, inalterável. E talvez aí eu tenha percebido que a mudança estava nos olhos do receptor e não no verde perpétuo que permaneceu cansado, prestes a sucumbir aos anti-histamínicos!
Em Julho, com uns muito recentes 23 anos, Sandra incomodou-se com uma dor cervical que lhe irradiava para o membro superior esquerdo! Uma boa dose de AINE’s foi o suficiente para que continuasse a trabalhar no cabeleireiro, sem se preocupar mais. Um mês depois enquanto tomava banho sentiu vários nódulos na mama esquerda. Assustada pelas infindáveis notícias e boatos de mulheres com cancro da mama, foi ao médico de família! Este, cauteloso, pediu uma mamografia! Mas esta não descansou ninguém. Disse-lhe: «vou enviar-te para o IPO, temos de investigar…». O reboliço a que votou o seu pensamento diário não mais voltou atrás.
No IPO explicaram-lhe que lhe iam retirar um pedacinho do nódulo maior para analisar. Paciente, Sandra esperou! Afinal, os seus 23 anos deveriam de lhe valer de algo… Ainda não tinha casado, ainda não tivera filhos… aquilo era coisa para mulheres mais velhas! No dia em que saiu de Oliveira de Azeméis para receber o resultado, Sandra ainda não percebia o porquê, certamente alguém se tinha enganado, não havia nenhuma história de cancro da mama na família! Quando encarou o médico, sentiu imediatamente que algo de mau se passava. «Sandra, tens uma leucemia…»
Três ciclos de quimioterapia depois, a Leucemia Linfoblástica Aguda L2 ainda lá estava. Resistente! Sandra aguardava o transplante de medula óssea – havia três dadores compatíveis em Portugal.
O exame físico terminara e Sandra voltou a sorrir! Mas este sorriso era diferente dos outros! Escondia qualquer coisa de inquietação! Qualquer coisa de prenúncio incontornável, de vontade impossível!
E o sorriso continuou, inalterável. E talvez aí eu tenha percebido que a mudança estava nos olhos do receptor e não no verde perpétuo que permaneceu cansado, prestes a sucumbir aos anti-histamínicos!
1 comentário:
"mal eu sabia, que nascemos sombras."
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